domingo, 6 de janeiro de 2013

João, Lucas e Matheus


João quer ser piloto. Lucas quer tomar sorvete. Matheus queria pegar a Marcela.

João sabe nadar. Lucas vai aprender a tocar violão. Matheus não conseguiu pegar a Marcela.

João passou direto. Lucas faz cursinho pré-vestibular. Matheus estuda inglês com a Marcela.

João não está nem aí para o calor. Lucas está suando bicas. Matheus queria estar na neve com a Marcela.

João vai levantar dali e vai pra casa. Lucas vai dar uma volta no calçadão. Matheus vai ficar por ali e pensar na Marcela.

João já não aguenta mais Matheus falando da Marcela. Lucas também não. Matheus não está nem aí para isso.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A noite mais quente da história


Mas eles nem se importam.

Estão lá sentados, de pé, jogando bola, vendo o mar, de costas pro mar, dançando, brincando, e se aproveitando da brisa para manter o rebolado.

Compartilham o tronco, o riso, a brincadeira, as férias e os dias entrefestas que estão aí para puro deleite de quem saltou do Natal direto pro Reveillon - já que o mundo não acabou, nada mais justo que aproveitar as noites quentes e os dias mais quentes ainda com o que ainda resta.

A garrafinha d'água é mais importante que a guerra na Síria. O Jornal Nacional foi sumariamente substituído pelo frescobol. O amanhã promete areia em lugares inimagináveis. Calçar as Havaianas para voltar para casa será igualmente desagradável. A água do mar, que não é mar, é baía, alcança níveis inusitados de impropriedade para o banho. É a noite mais quente do dia mais quente da história, de acordo com os meteorologias. Mas eles nem se importam.

sábado, 15 de setembro de 2012

Sozinho


     O Sol parecia mais quente que o habitual. As tardes de frescobol estavam tão distantes quanto o Corcovado, apenas uma silhueta no horizonte, apesar de estar ali, no mesmo lugar de sempre, com a mesma bermuda de sempre.
     Questionou o mar mais uma vez. Por que dessa forma, por que depois de tantos anos, por que tão forte e tão fraco, de uma hora para outra. Não se encaixava na imagem do executivo, sentado ali, olhando o nada, contemplando o outro lado da Baía e lembrando o tanto, e engolindo o nada, e queimando as costas num Sol tão inapropriado para a situação.
     Não tem jeito. O que não tem solução, solucionado está, dizia a avó. Suspirou uma vez, tamborilou os dedos no tronco, pegou a camisa caída na areia e deu uma última olhada no Pão de Açúcar, ao levantar.
     "Uma pena... uma grande pena", confessou ao tronco, que nada respondeu, assim como o mar.